“O pecado é um desafio à justiça de Deus, um roubo à sua misericórdia, um zombar de sua paciência, um desprezo ao seu poder e um desdém ao seu amor” (John Bunyan).
O profeta Isaías, no capítulo 59.2 ,apresenta aos hebreus um defeito na comunicação vertical entre estes e Deus: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça”.
A narrativa da raça humana é apresentada na Bíblia Sagrada basicamente como o homem num estado de desobediência e rebelião contra o seu criador, e Deus estabelecendo seu plano para a remissão do homem.
Podemos dizer a priori que o pecado é um estado mau da alma e/ou da personalidade. O pecado não são meramente atos errados praticados isoladamente, não é algo apenas concreto e externo, mas é algo inerente e interiormente fixado na alma do ser humano. Sendo assim, não é só porque determinada pessoa é qualificada como “boa, de caráter, de moral, etc...” que está isenta de pecar. Independente das qualidades do ser humano em si, a Palavra de Deus afirma que todos pecaram: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
As pessoas, em geral, pensam no pecado somente como atos individuais tais como: roubar, matar, adulterar, mentir. No entanto, pecado é muito mais que isso. Vejamos:
Não podemos declarar que o pecado sejam apenas atos errados conforme dito anteriormente. Pecado é a disposição que o ser humano, interiormente, tem para a prática destes atos. Ninguém mata, rouba, adultera, sem antes dispor de inclinações para a prática do pecado. Antes que o indivíduo assassine alguém, ele alimenta a ira, o ódio, a vingança. Antes que aconteça o adultério, a cobiça, a sensualidade, a imoralidade se instala no coração humano. As ações, os atos, não são mais importantes que os motivos, os desejos. Jesus não condenou apenas o homicídio e o adultério (Mt 5.21,27), mas também condenou a ira e a cobiça (Mt 5.22,28). Logo, não pecamos pelo simples fato de o pecado ser inevitável, mas, porque a nossa natureza corrompida nos compele a tal prática: eis aí a causa do pecado.
Mas como poderia então o homem obedecer ao mandamento bíblico explicitado em 1Pedro 1.15?: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver”.
Primeiramente, apresentando uma vida de conformidade com a lei moral e divina, não somente em atitudes santas, coerentes com as virtudes de Deus, mas também em motivos puros. A definição de pecado, portanto, é “deixar de se conformar à lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude, seja em natureza”, conforme analisa Wayne Grudem, renomado teólogo cristão.
Note o que diz o texto de Romanos 2.14,15: “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os”. Este texto deixa claro que não há desculpa para o ser humano quanto a não ter o conhecimento real de Deus. Se os gentios não têm a revelação especial acerca de Deus, no entanto, a “lei” de Deus está anexada, escrita em seu coração. Não crer na mensagem apresentada, então, se torna desobediência e rebelião contra Deus. Saber o certo e fazer o errado, teologicamente é pecado, e foi exatamente isso o que aconteceu com Adão e Eva ao desobedecerem a exigência de Deus quanto a não se alimentarem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.16,17).
Quando comete pecado o ser humano distorce e deforma a imagem na qual foi criado à semelhança de Deus originalmente. É este o motivo de tantas anomalias no comportamento humano. Analisando Romanos 1.21-32, o quadro é crônico. Tomemos como exemplo apenas os versículos 21 e 28:
Há uma incompreensão por parte de muitos cristãos ao se depararem com o texto de Mateus 5.48 que diz: “Sede vós, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”. Esta perfeição implica em atingir as normas estabelecidas por Deus, o que por parte do ser humano poderá não ser total ou parcialmente alcançado. Os fariseus foram censurados por Jesus nem tanto pelo que faziam, mas sim, pelos motivos com que faziam (Mt 6.1-18). Sendo assim é pecado, também, praticar atos com a intenção de ter a aprovação apenas e simplesmente humana.
Neste aspecto, não deve existir ninguém mais importante tomando o lugar que Deus deve ocupar no coração dos seus filhos. Jesus referiu-se a isso também quando disse: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.47). Portanto, ele não queria dizer com isso que os pais não devam ser amados, mas, ele se refere à posição que deveria ocupar no coração de seus seguidores. A primeira proibição no decálogo é: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). Deus deve ter a primazia em tudo: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.30). Dar o primeiro lugar a alguém ou a qualquer objeto em detrimento de Deus redunda em pecado, e é idolatria.
As Escrituras Sagradas empregam, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, vários vocábulos quando se trata de definir o pecado. A seguir seguem alguns significados:
A palavra geralmente usada para o pecado é hamartia e tem o sentido básico de “errar o alvo”. Seu correspondente na língua hebraica é Chata’th. Myer Pearlman, em sua obra Conhecendo as doutrinas bíblicas, afirma que o sentido é o de errar o alvo: “...como um arqueiro que atira, mas erra; do mesmo modo, o pecador erra o alvo final da vida”. De hamartia temos o nome desta disciplina: hamartiologia, que refere-se ao estudo sobre a doutrina do pecado.
O Dicionário Internacional de Teologia de Lothar Coenen e Colin Brown, obedecendo aos derivados desta palavra, afirma o seguinte acerca desse termo: “cometer uma injustiça”, “ato injusto”. Seu derivado em hebraico é avon.
Seu correspondente em hebraico é resha e significa “inadvertência”, “erro”, “engano”. Entende-se como alguém que se “desviou para outro lado”.
Faculdade ICP
Pastor Muller